terça-feira, 17 de maio de 2016

Entendendo COE


O novo produto da moda entre os bancos e corretoras agora é o COE (Certificado de operação estruturada). De maneira bem resumida, o que o COE faz é mesclar diversas operações dentro de uma "caixinha" e vender essa caixa para o cliente final. Essas operações misturam renda fixa, variável, indice e moedas. Elas ficam registradas na CETIP e na maioria dos casos tem liquidez somente no vencimento. Vou deixar um link no fim do post com informações e os tipos de operações extraídas diretamente da página da CETIP.

Mas vocês sabem realmente por que as corretoras estão desesperadas para vender este produto, chegando até a "empurrar" 2 ou 3 COE's por semana para os clientes? A verdade é que o COE gera uma comissão altíssima para quem vende o produto, seja o banco estruturador e também para o distribuidor (corretora). Este é o interesse.

Antes da CVM autorizar a venda de COE pelas corretoras, as operações estruturadas tinham que ser liquidadas diretamente na conta do cliente, ativo por ativo (calls e puts por exemplo) e por conta disso a marcação a mercado fazia o cliente enxergar "perdas" antes mesmo da operação chegar ao fim. A mesma coisa se dá com os fundos de capital protegido, por mais que o cliente saiba que vai ter no minimo o principal de volta no vencimento, ele visualiza a cota valendo menos, e isso gera desconforto.Além do que o custo e a burocracia para estruturar um fundo de investimento é muito maior do que para estruturar um COE, que é muito mais simples, ou seja, gera um retorno maior para quem vende. Por isso é que a tendência é que tenhamos cada vez mais COE's e cada vez menos fundos de capital protegido (a maioria dos COE's tem essa característica de capital protegido, mas não é obrigatório).

Um produto de capital protegido tem apelo mais fácil para a venda ao investidor final, é facil de estruturar, e gera uma receita muito boa. Basicamente ele funciona da seguinte forma, de cada R$1mil que o investidor colocar, R$900 serão utilizados em uma aplicação de renda fixa (LFT) que ao final do período de duração do fundo ou COE, vão se transformar novamente nos R$1mil iniciais (como nossa taxa de juros é alta, esse tempo é curto). Com os R$100 que ficam na mão serão compradas as opções para estruturar o produto e também será tirado deste valor a remuneração que é paga a cada integrante da cadeia (banco, distribuidor e até mesmo o agente autonomo que te vende isso). É claro que as opções utilizadas são opções exóticas que possuem características próprias acordadas entre as partes. Podem por exemplo possuir barreiras (knock out), ou seja, a operação desarma se bater em certo preço. Podem  ainda trabalhar um intervalo de preços, por exemplo, em uma operação com petr4, desconsiderar cenários extremos (petr abaixo de R$2 ou acima de R$20) isso faz a opção comprada ficar mais barata. Mas existem diversas características de estruturas (também estão no link no fim da página).

Vejam bem, não estou aqui dizendo que é um produto ruim. Existem estruturas bacanas e que permitem ao investidor se expor a ativos que ele não conseguiria sem correr muitos riscos, como petróleo, ouro, SP500 etc... mas a de se ficar com o pé atrás da "empurroterapia" que é feita. É importante lembrar que o custo de oportunidade no Brasil é muito alto, então ter apenas o capital protegido de volta ou reajustado pela inflação ao período pode não ser tão vantajoso assim. Além do que o produto poderia ser bem mais interessante para o cliente (remuneração maior, ou intervalos maiores de preços) se as comissões e spreads utilizados pelos agentes do mercado financeiro não fossem tão altos. No final das contas quem sempre paga tudo é o cliente final.

Como podemos ver pelos números da CETIP o mercado de COE's está crescendo em uma velocidade bem grande e tende a ser ofertado por cada vez mais casas. Mas como todo produto é necessário entender seu funcionamento e seus riscos, coisas que até mesmo o pessoal que vende, seja da própria corretora ou da cadeia de agentes autonomos muitas vezes não entendem.

Link da página da cetip sobre COE'shttps://www.cetip.com.br/coe

terça-feira, 3 de maio de 2016

O Risco


Hoje vamos falar um pouco sobre a área de risco de uma corretora. Agora se você está pensando que vamos falar da teoria moderna do risco, Markowitz, fronteira eficiente e tudo mais que você viu no livrinho na faculdade ou na apsotila do cpa 20 pode ir tirando o cavalinho da chuva. Nada disso é utilizado no risco da corretora. NADA! Mas antes, vamos tentar relembrar o que é risco.

Dentre as muitas definições, gosto de falar que risco nada mais é do que a incerteza sobre alguma coisa. Se tenho a certeza de que algo vai acontecer, não tem risco. Se eu sei que se entrar em um carro vou sofrer um acidente, eu não vou entrar. Se eu sei que se sacar dinheiro naquele banco serei assaltado, eu não vou sacar. Logo o risco é uma forma de tentar quantificar a chance de alguma situação dar merda. E nesse caso específico estamos falando do universo dos investimentos. E pode ter certeza, acontecem muitas merdas nele!

Existem diversas categorias de risco, que incluem o risco sistemico, risco de mercado, risco operacional, risco de imagem, risco legal, risco de liquidez, etc... E também formas de tentar "calcular" o risco, seja utilizando o desvio padrão, o VAR, Alisamento exponencial, simulação de monte carlo, riskmetrics. Mas a bem da verdade é que falando de mercado nada disso de fato funciona! Tá, tudo bem, peguei pesado, mas não estou falando nenhuma loucura não. Principalmente quando ocorrem eventos de cauda (risco de cauda), que nada mais são que eventos com pouca probabilidade de ocorrerem. Mas que ocorrem! Por exemplo o ataque as torres gêmeas. Parecia mais um dia normal no mundo e um louco rouba um avião e joga no prédio. Ou mais recentemente aqui no Brasil a queda do avião que matou o Eduardo Campos (vocês viram o mercado nos instantes após a notícia?). Então os modelos funcionam relativamente bem ceteris paribus. Porém quando mais precisamos deles eles não estão lá. De toda forma não adianta questionar muito, é isso que tem pra hoje já faz alguns anos....

Feito esse adendo, voltamos agora para nossa amiga área de risco. Como eu disse, nada disso é utilizado por lá. O risco de uma corretora é bem diferente do risco de um banco ou de uma aréa de gestão (que geralmente tem sua própria análise de risco). Basicamente o que é preciso ver é se os clientes possuem limites para operar e se esses limites estão dentro de um percentual satisfatório baseado em suas garantias, ou seja, o que realmente eles possuem de grana (ações, renda fixa, etc) dentro da casa. E quanto maior a alavancagem oferecida pela corretora, maior a chance de acontecer o que? O que? MERDA!

De fato, apesar do nível de alavancagem ser um dos principais fatores, a mais importante missão da área de risco é evitar que o cliente "quebre" ou fique insolvente. Isso significa que mesmo vendendo todas as ações ou renda fixa que tem na carteira, o patrimônio líquido dele ficará negativo. E aí cabe a ele decidir se manda a grana para saldar o valor ou não. A corretora até pode botar no serasa ou em ultima instancia tentar cobrar judicialmente mas isso é muito raro, porque afinal se o cara chegou ao ponto de ficar devendo, foi porque os sistemas da corretora permitiram. Lembrando sempre que corretora não pode financiar cliente! Cliente não pode ter conta negativa na corretora! Apesar disso algumas casas cobram uma multa pelo saldo negativo do cliente, o que faz o valor aumentar.... Então deixa eu ver se entendi, a corretora faz receita em cima desse negativo (e não é pouca) então qual o interesse de fazer com que o cliente não fique negativo?? Estranho.....

Falando em sistemas, eles são muito ruins e falhos. Algumas corretoras utilizam programas de terceiros, mas grande parte tenta utilizar seus próprios sistemas. E pasmem, muitas vezes esses sistemas são nada mais nada menos do que planilhas de excel! Não, não estou mentindo. É verdade mesmo. E por isso, muitas vezes ocorrem erros como zeragens indevidas (zeragem é quando o risco encerra sua operação de maneira compulsória), e quando o cliente questiona, nem mesmo o setor de risco sabe porque zerou. Vai alegar que estava alavancado e fim de papo. Não existe um log que mostre uma fotografia de como estava o mercado no momento da zeragem. E alguns desses "sistemas" são bem burros, ao ponto de acusar risco na conta de um cliente comprado em call. Ora bolas, se ele esta comprado em uma call, o máximo que pode acontecer é o valor dela chegar a zero. O cara nunca vai ficar com a conta negativa por isso. Já vi casos do limite ser concedido sobre uma aplicação que venceria em 2 anos. O cara ficou negativo e não tinha como liquidar a aplicação para saldar o débito em conta! E nisso a multa (juros disfarçado) comendo.

Outro ponto é que não existe um padrão para esses enquadramentos. Se o cliente tiver comprado duas ações ou opções sem ter financeiro e estas subiram, na hora do enquadramento vende-se qual das duas? Ou vende as duas? Ou vende só a quantidade para cobrir o negativo? Acaba que cada um decide por si, não é uma coisa clara. E isso porque estamos falando de opções, mini indice ou mini dolar. Se falarmos de ativos mais complexos ou que são mais dificeis de serem precificados, como opções de indice, contratos de DI, opções de dolar, já era! Os caras ficam perdidinhos. Experimenta perguntar quanta vai chamar de margem o lançamento de determinada quantidade de put ou call. Não sabem ou vão demorar muito tempo pra responder. Se manda usar o cm tims aí já viu... CM o que??? Provavelmente vai passar por isso.

Por essas e outras que mais uma vez as corretoras deveriam investir em treinamentos e sistema, pois a culpa muitas vezes não é do profissional, e sim da empresa que não dá o devido suporte. E depois quer reclamar quando as merdas acontecem. E vou te contar, as merdas e erros operacionais na área de risco costumam ser beeeem grandes.

E vocês, já passaram por dificuldades com a área de risco para operar algum ativo ou estratégia? Conta nos comentários.